Qual o grau de proteção proporcionado pelo exercício, por exemplo no caso do
câncer de mama?
Foram feitos alguns estudos epidemiológicos. Um, publicado recentemente, indica
que cerca de 10% dos casos de câncer de mama após a menopausa registrados na
região da Ásia-Austrália podem ser atribuído diretamente à inatividade física.
Isso quer dizer que um em cada 10 casos desse tipo de câncer estava vinculado à
falta de exercícios.
De quanto exercício estamos falando?
Diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmam que deveríamos fazer
cerca de 150 minutos de exercício de intensidade moderada por semana. Isso
significa, por exemplo, uma caminhada de passo rápido ou um passeio de
bicicleta, e o que Levitt sugere é que isso seja feito por períodos de 30
minutos. Portanto, cinco vezes por semana, com 30 minutos de exercício moderado
a cada sessão.
No caso de exercícios de alta intensidade, como jogar futebol ou correr, 75
minutos por semana já seriam suficientes para reduzir riscos à saúde.
Em pessoas que já têm câncer, sabe-se qual é o impacto do exercício no
processo de recuperação?
Sim. Há indícios de que a atividade física e a boa forma têm um efeito
importante nos índices de sobrevivência ao câncer.
Indivíduos que têm melhor estado físico têm também índices de sobrevivência
maiores em cinco ou dez anos, algo que se mantém inclusive quando se leva em
conta outros fatores de risco, como obesidade ou tabagismo.
Temos alguma ideia de por que o exercício protege o corpo?
Os motivos podem ser os vários efeitos preventivos do exercício e da boa forma.
Em primeiro lugar, quem tem um bom estado físico tem mais possibilidades de
suportar o tratamento contra o câncer, que muitas vezes inclui grandes
cirurgias. Segundo Levitt, sabe-se que é mais alta a probabilidade de que
indivíduos que estão em melhor forma sobrevivam e tenham menos complicações.
Além disso, essas pessoas toleram melhor a quimioterapia. E estão começando a
surgir indicadores de que elas sofrem efeitos secundários menos tóxicos por
conta dos medicamentos.
A biologia específica deste efeito protetor está sendo muito pesquisada no
momento, diz Levitt. “O que sabemos é que o exercício é anti-inflamatório e, no
longo prazo, ter processo inflamatórios crônicos aumenta o risco de que o
câncer retorne e reduz a possibilidade de sobrevivência.”
Portanto, é possível que haja alguma relação entre o câncer, a inflamação e o
exercício, mas esse elo ainda está em fase inicial de pesquisas.
A maioria das pessoas considera o exercício fundamental para uma vida
saudável. Por outro lado, quando ficamos doentes, tendemos a pensar que o
descanso é muito importante. Isso está errado?
“Completamente. É muito importante que digamos aos pacientes que, ainda que
tenham sido diagnosticados com câncer, o descanso não é a solução. É preciso
manter-se ativo”, opina Levitt.
“É como dizer que, se você se sente mal, deve se deitar e isso ajudará você a
se recuperar. Mas, de fato, parece ser ao contrário. O movimento, o exercício e
a atividade física depois de uma cirurgia de câncer ou durante o tratamento
podem melhorar o prognóstico a longo prazo.”
Parece que, em muitos aspectos, o exercício é uma maravilha…
“Sim, e se alguém tivesse inventado o exercício como terapia medicamentosa,
tenho certeza de que seria muito mais popular”, concluiu a médica.